A necessidade de estabelecer
limite é antiga e ocupa lugar central na Bíblia. A convivência sem limites
distancia porque gera conflito de interesses. Abraão teve que se separar de seu
sobrinho Ló porque as terras onde habitavam juntos não eram mais suficientes
para o rebanho dos dois. Abraão e Ló, mesmo sendo parentes, vivenciaram
conflitos de interesses por causa de espaço insuficiente. A falta de limite
provoca discórdias, brigas, confusões, porque certamente alguém vai acabar
invadindo o espaço um do outro. Por exemplo, dois irmãos conduzem juntos um
negócio que com o tempo se torna pequeno demais para os dois. Para evitar
conflitos, separam-se e chegam a um acordo de como distribuir o que até então
compartilhavam. Quando vivem e trabalham dentro de uma distância clara e
adequada, conseguem estar em paz um com o outro. Quando estão próximos demais,
há somente brigas. O limite é algo sagrado. Sagrado é o que está fora do
alcance do mundo, sobre o qual este não possui poder. É necessário que cada um
de nós tenha em nosso interior um lugar sagrado, inacessível às pessoas com
seus parâmetros e exigências. O limite separa, protege e distribui espaço.
Na vida necessitamos primeiro
estar próximos dos pais e da família, mas em algum momento esse espaço passa a
ser pequeno. Então, é melhor separar-se por bem. Na jornada que nos conduz para
a vida é preciso conquistar o nosso próprio espaço. Para isso, o importante é
manter o equilíbrio entre proximidade e distância. A razão que Abraão alegou
para a separação entre ele e Ló é que eles eram irmãos, ou seja, exatamente por
terem uma relação tão próxima, era preciso que um se separasse do outro para
que cada um pudesse viver bem dentro de seus limites.
Proximidade demais cria
desavenças até entre irmãos. Por mais que se relacionem bem, conflitos irão
surgir caso vivam mais próximos do que deveriam um do outro. Ninguém tem o
direito de remover o marco do outro. O limite mostra o que é meu, o que é teu.
Todos nós necessitamos de
proteção dos nossos limites para mantermos a nossa identidade. Quando alguém
tem a sua casa arrombada fica abalado pelo dano material causado, mas
principalmente porque teve seu limite violado. Quem arromba uma casa não
transgrede apenas o limite da casa como também o da própria pessoa.
O limite nos protege. Existem
pessoas que não possuem sensibilidade em relação aos nossos limites. Nesses
casos, a gente tenta se defender de modo instintivo. Essas pessoas se tonam
desagradáveis e por isso a evitamos.
O limite é um tabu que não pode
ser ultrapassado. Cada um precisa do caráter sagrado do seu limite, pois assim
encontrará a si mesmo e se tornará intacto e inteiro. Quem se expande à custa
do outro acaba ferindo-o e desprezando-o. Por outro lado, acaba excluindo a si
mesmo da convivência humana, pois ninguém quer ter nada a ver com pessoas que
não mantêm o caráter sagrado dos limites. Isso cria um ciclo vicioso. A pessoa
fere o limite do outro, deseja forçar proximidade por se sentir só. Desse modo,
exclui a si mesmo, tornando-se incapaz para uma relação. Acaba se isolando cada
vez mais.
Pense Nisso
1 comentários:
bom texto, muito bom mesmo. parabéns
Postar um comentário