Elis Regina morreu de overdose

1 comentários

Não tem novidade nenhuma nisso. Morreu Elis Regina, aos 36 anos, dia 19 de janeiro de 1982, de overdose. Ela misturou cocaína, tranqüilizantes e whisky. Há riquezas que não encontramos duas vezes, são ímpares. Há 29 anos, o Brasil perdia, para as drogas, a cantora insubstituível.
Tentaram reeditar Elis, através da filha dela, Maria Rita. Mas não tem como, não deu certo. Maria Rita é uma construção do mercado fonográfico, uma artista comum, que tem até seus méritos. Mas a mãe dela sim era a força, a emoção, a alma e a voz em pessoa. Depois de Elis, vieram outras intérpretes brasileiras; não veio ninguém.
O enterro de Elis moveu uma multidão de fãs, que na hora do sepultamento cantava, entre outras trilhas, a seguinte marchinha de carnaval: “Quem parte leva saudades de alguém que fica chorando de dor. Por isso eu não quero lembrar quando partiu meu grande amor. Ai, ai, ai ai, ai ai ai, está chegando a hora. O dia já vem raiando, meu bem, eu tenho que ir embora”. Emocionante!
Os pais de Elis, seu Romeu e dona Ercy, passaram a noite toda no teatro Bandeirantes, em São Paulo, onde foi o velório. Um repórter da Rede Globo, do Jornal Hoje, em um daqueles momentos “brilhantes”, perguntou a eles como estavam vendo aquela demonstração de amor pela filha? Não conseguiram responder quase nada. “É uma satisfação para gente”, sussurou o pai da cantora, com a voz embargada, encolhido em dor como uma criança ferida. O repórter, não satisfeito, insistiu. “É realmente uma demonstração de muito amor, não é dona Ercy?”. A mãe, em um suspiro agonizante, resumiu: “É...”
A pimentinha, apelido que ganhou de Vinicius de Moraes, criticava publicamente a ditadura militar nos anos de chumbo. Foi ela que imortalizou o hino da anistia, “O Bêbado e o Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc. Em cenas históricas, ao som dessa música, a gente viu muitos voltarem do exílio, tal qual Betinho, o irmão do Henfil, como diz a letra.
Para quem não sabe, Elis foi presidente da Assim, Associação de Intérpretes e de Músicos. 
A interpretação visceral de Elis comovia os corações mais duros. Despertava paixões, tórridas, perdidas...
As novas gerações talvez ignorem tudo isso... 
A morte costuma fazer isso com a gente, mesmo com estrelas dessa intensidade. É um manto que cobre sentimentos, a mão que leva para um lugar longe. Passados os anos, a gente vira só um retrato na parede, ou em um álbum, ou apenas uma saudade familiar, um destaque eventual no obituário...Quem sabe uma matéria por ano...
Pensei em falar um pouco de Elis, para que ela de alguma forma reviva. Pensei também em talvez fazer um alerta para o risco da overdose.

Por Keka Werneck - Jornalista em Cuiabá.

1 comentários:

Anônimo disse...

ótimo texto resumo real de Elis

Postar um comentário